12 de out. de 2007


Entidade guerreira

CLARA NUNES: livro biográfico conta a história de uma das maiores intérpretes da música brasileira nos 20 anos da morte dela (Foto: REPRODUÇÃO)
O jornalista Vagner Fernandes, passeia pela vida de uma das cantoras brasileiras mais populares dos anos 70 em “Clara Nunes - guerreira da utopia” (Ediouro)Carismática, iluminada. Clara Nunes representava a própria aceitação da cultura negra no universo da mídia brasileira. Uma intérprete e uma mulher à frente de seu tempo, capaz de assumir sua negritude e sua feminilidade como poucas até hoje. Entre um projeto visual que explora com intensidade um rico acervo fotográfico, em cores e preto-e-branco, Vagner traça, paralelamente à trajetória de uma cantora que transitou entre o esplendor de duas mídias, a revista e a televisão, um retrato do Brasil. Sobretudo entre os anos de ditadura militar e da abertura democrática. “Curiosamente, nesses tempos difíceis de censura nosmeios de comunicação e das artes em geral é que a jovem Clara vai à luta, visando transformar seu sonho em realidade”, descreve o escritor José Louzeiro, no prefácio da obra.O livro chega às bancas às vésperas dos 25 anos de morte da cantora. Clara Francisca Gonçalves, a Clara Nunes, nasceu na cidade mineira de Cedro (atual Caetanópolis) em 12 de agosto de 1942 numa família de classe operária. Morreu prematuramente, aos 40 anos, em dois de abril de 1983, após uma cirurgia de varizes. Sua carreira meteórica, iniciada como crooner em Belo Horizonte, foi antecedida de duas tragédias familiares: bem jovem, ela ficou orfã de pai e mãe. Depois, aos 15 anos, viu seu irmão matar seu suposto deflorador. E ser defenestrada pela sociedade da pequena comunidade, o que a levou à capital mineira.Até então extrovertida, Clara experimentou novos sentimentos, fortaleceu seu espírito para as batalhas que enfrentaria, inicialmente trabalhando numa fábrica de tecidos, ofício que já virara samba, e cantando em igreja, prazer que já se tornou hábito. “O que teremos pela frente é a história da menina que viveu um sonho e este lhe transformou a vida. Deu-lhe forças e alegrias para o enfrentamento com adversidades. Clara é alma boa que, fisicamente, viveu entre nós, cantando alegrias e celebrando a paixão humana em nível superior. Quando se foi, no auge do sucesso, deixou atrás de si um rastro de luz, encantamento e amor ao próximo”, acrescenta Louzeiro.No Rio de Janeiro, percorreu vários caminhos - de cantora de boleros à jovem guarda e festivais universitários - até chegar ao estrelato como sambista e, posteriormente, à consagração como intérprete da MPB. Seus shows emocionaram platéias no Brasil e em várias partes do mundo. A mídia rendeu-se a ela. A indústria do disco também. Clara Nunes dava ibope, era uma máquina de fazer dinheiro. E assim mergulhou nos jogos do mercado fonográfico rumo ao estrelato.Intérprete de personalidadeA capacidade lutar pelos seus ideais, de fazer valer seus direitos, é incontestável. Acreditava no amor e na amizade. Brasileira legítima, tinha uma fé absolutamente sincrética. Batia cabeça e cantava ponto de terreiro. Tomava passe em centro de mesa branca e comungava em igreja católica, após se ajoelhar para rezar o Pai Nosso ou a Ave Maria diante da imagem de Nossa Senhora. Carisma sincrético com que, paralelamente, ajudava a estabelecer a imagem e o canto mulato, negro, símbolo da própria nação brasileira. “Era indiscutível seu desejo de crescer espiritualmente, sem preconceito com este ou aquele segmento religioso. Envolta pelo manto sagrado da beatitude, acreditava a cantora que todos os credos indicavam a direção de Deus”, reporta ainda o, autor de “Pixote”.Assim, vendeu milhares de discos, entre canções de grandes autores, das releituras do samba de Noel Rosa e da bossa de Vinicius de Moraes, a hinos em sua voz criados por Sivuca ou pelo marido Paulo César Pinheiro: “Morena de Angola”, “Nação”, “Como é grande e bonita a natureza”,“Feira de Mangaio”, “O mar serenou”, “Viola de Penedo”, “Ê baiana”, “Conto de areia”, “Candongueiro”, “As forças da natureza”, “Conto de areia”, “Canto das três raças”, Todas elas descritas na musicografia coletada por Vagner Fernandes, ao final do livro. Segundo Louzeiro, Clara não deixou seguidoras, embora cantoras como Teresa Cristina e algumas outras assumam a força da sua influência.Em 1983, no apogeu da carreira, internou-se numa clínica na zona sul do Rio de Janeiro para uma cirurgia de varizes, aparentemente simples, vindo a falecer depois de 28 dias de agonia. A possibilidade de erro médico, os boatos desencontrados, a comoção popular e o velório apoteótico na quadra da sua Portela em Madureira são temas dos últimos e emocionantes capítulos de “Clara Nunes - Guerreira da Utopia”.

LIVRO EDIOURO2007 320 PÁGINAS R$ 49,90 CLARA NUNES - GUERREIRA DA UTOPIAVagner Fernandes TRECHOA MORTE NA SALA DE OPERAÇÃO Clara chegou à clínica às dez para as oito da manhã e foi direto para o quarto. Os funcionários acabariam por reconhecê-la e os comentários, como um rastilho de pólvora, ecoaram de imediato, pelos corredores da Clínica São Vicente. ´Clara Nunes está aqui´, ´Como ela é linda´, ´Simpaticíssima´, diziam. Clara começou a ficar irritada com aquela situação. Quando o Dr. Antonio Vieira de Mello chegou ao quarto dela, acompanhado pelo anestesista Américo Salgueiro Autran Filho, com quem trabalhava havia anos. (...) Antes de aplicar-lhe a anestesia, dr. Américo para relaxá-la brincou: ´Tenha bons sonhos´. Clara respondeu: ´Que sejam coloridos, doutor´. Um monitor marcava seus batimentos cardíacos. (...) Tudo corria normalmente. A perna direita já havia sido operada e a segunda estava sendo saturada, quando Antonio Vieira de Mello percebeu que o sangue de Clara apresentava uma coloração diferente, mais escura. O médico assustou-se. Voltou-se para o anesista e pediu para que lhe aferisse a pressão. Naquele tempo, com aparelho ainda manual. A pressão arterial de Clara estava em queda, a artéria femoral estava sem pulsação. Ela estava tendo uma parada cardíaca (...) O desespero tomou conta dos médicos e assistentes. A cantora havia tido uma reação alérgica a algumas substâncias do anestésico, uma anafilaxia. No popular: choque anafilático, o que provoca vadodilatação generalizada de todos os capilares do corpo. O cérebro não suportou e um forte endema se formou. Morte cerebral certa.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=475021

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