29 de out. de 2007



Edição 464 REVISTA CARTA CAPITAL

No terreiro de Clara

por Pedro Alexandre Sanches

O livro recupera em imagens as várias etapas da história da cantora, do visual iê-iê-iê à fase "deusa dos orixás"
Clara Nunes (1942-1983) viveu entre a indecisão e a multiplicidade. Em religião, era simultaneamente católica, kardecista, umbandista, devota do candomblé. No início da carreira, nos anos 60, a inconstância pautou as escolhas musicais, divididas sem prioridade entre o romantismo “cafona” e os temas universitários “sofisticados”, entre o samba, o iê-iê-iê e a bossa. A biografia Guerreira da Utopia , do jornalista Vagner Fernandes, ilumina com ineditismo os altos e baixos dessa trajetória.
O livro demonstra que o sucesso só foi acontecer a partir de 1971, quando bancou colocar foco na brasilidade, ou melhor, em várias brasilidades regionais. Clara logo foi rotulada como “sambista”, o que não dava conta da diversidade que ela pregava, mas lhe garantiu lugar na história e fez dela a primeira mulher brasileira a vender cerca de 500 mil cópias a cada disco lançado. Tornou-se a cantora mais popular do País, dado que o livro tenta fazer emergir da sombra em que se encontra desde a morte da cantora, após um choque anafilático numa cirurgia de varizes.
Minuciosa, a biografia guarda o mérito de abordar sem meias palavras uma série de passagens espinhosas. Assim, Clara aparece como militante pela abertura política nos anos finais, mas também como artista que antes satisfizera a ditadura ao gravar, sob pressão, o hino Olimpíada do Exército. A cantora Beth Carvalho concede depoimento franco e agudo sobre os conflitos entre ambas. A guerra entre gerações de compositores da Portela é descrita não só sob o ponto de vista da velha-guarda, mas também dos sambistas que lutavam para se impor.Nesse último episódio, o autor parece celebrar Clara como alguém que se omitia das disputas que aconteciam ao redor. Aí se esconde um ponto frágil da narrativa, que em certos momentos parece mais empenhada em “perdoá-la” por toda e qualquer atitude controversa que em contar como era de fato Clara Nunes. Os momentos de elogio excessivo (e esvaziado por clichês abstratos) sabotam, mas não chegam a destruir a força da pesquisa e da própria história de uma das mais desassossegadas e arrebatadoras intérpretes do Brasil.

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