15 de abr. de 2008


Saudades da guerreira


Quando faleceu em 2 de abril de 1983, um Sábado de Aleluia, a cantora Clara Nunes descansou após quase um mês em estado de coma em decorrência de complicações de uma cirurgia de varizes na perna esquerda. Ela sentia dores ao dançar e recorreu à operação. Em 2008, exatos 25 anos após sua morte, a indústria fonográfica nacional inicia as homenagens àquela que é considerada uma das maiores intérpretes do Brasil.

Desde 1966, quando lançou o seu primeiro disco, "A Voz Adorável de Clara Nunes", até 1982, quando chegou ao mercado o álbum "Nação", seu último registro em vida, Clara Nunes vendeu mais de 10 milhões de seus discos.

No ritmo da qualidade dos sambas que a cantora gravou, a gravadora EMI, proprietária de parte do espólio da mineira de Cedro da Cachoeira, lança este ano no mercado uma série de produtos que visam celebrar a obra da intéprete que uniu a música brasileira aos ritmos africanos e religiosos.No final deste mês, chega às lojas um DVD com imagens realizadas pela TV Globo das participações de Clara em musicais do "Fantástico", no primeiro projeto comercial audiovisual sobre Clara Nunes.

O produto apresenta texto de Vagner Fernandes, autor da biografia "Clara Nunes – Guerreira da Utopia"."Também vamos reeditar a caixa de Clara Nunes, que contém nove CDs. Além disso, está saindo uma compilação em CD homônima ao livro de Vagner Fernandes, com repertório escolhido por ele", afirma Carolina Braga, assessora da EMI.

No ritmo das homenagens, a TV Globo produz um episódio do programa "Por Toda Minha Vida" sobre Clara Nunes. A emissora ainda não sabe quando o especial vai ao ar.Para a sambista capixaba Dorkas Nunes, estes lançamentos oferecem ao público a possibilidade de conhecer a fundo a obra de Clara Nunes. "Abri o show dela no Náutico Brasil, em 1970, em Vitória. Conversamos no camarim. Eu estava começando a carreira", afirma Dorkas, que deve lançar seu disco este ano, em que canta a música "Estrela Clara", homenagem feita por Francisco Velasco e Magno de Assis à cantora no ano de seu falecimento.Para quem não quer esperar os lançamentos oficiais, o rapper J3 adiantou a sua homenagem com a gravação de "Rap das 3 Raças", música em que fez colagens com trechos da música "Canto das Três Raças" (Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte). "Aproveitei o violão, a percussão, o coro, a voz dela no refrão e coloquei algumas coisas minhas", comenta J3, que se diz impressionado com os elogios que recebeu de participantes de comunidades sobre Clara na internet.A cantora Dennise Pontes, que ano passado realizou um tributo a Clara no projeto Estação Porto, em Vitória, explica que a artista se imortalizou como uma das maiores cantoras do Brasil por ser muito expressiva. "Ela tinha a alegria de cantar o Brasil. Ia de baião, de samba... Ela deixa um legado para quem gosta de música, principalmente por ter algumas fases em sua carreira, como quando estava próxima ao compositor Paulo César Pinheiro e também do produtor e radialista Adelzon Alves", emociona-se Dennise, deixando claro que o forte da Clara Nunes foi unir diversas culturas (negra, branca, nordestina e religiosa) para promover a música nacional.


Ouça na web Acesse www.myspace.com/rapperj3 e ouça "Rap das 3 Raças", de J3.


Análise Símbolo de brasilidade

José Roberto Santos Neves

Jornalista


Quando perguntada se queria ser conhecida como uma sambista, Clara Nunes respondia com convicção: "Não sou uma cantora de sambas. Sou uma cantora de música popular brasileira". Foi assim ao longo de 17 anos de uma vitoriosa carreira fonográfica, iniciada em 1966, com o LP "A Voz Adorável de Clara Nunes", quando a então jovem mineira, recém-chegada ao Rio de Janeiro, tentava imprimir na MPB sua voz predestinada entoando boleros e sambas-canções.O primeiro sucesso viria em 1968, com o álbum "Você Passa, Eu Acho Graça", impulsionado pela faixa-título, rara parceria de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.

Àquela altura, Clara Nunes já começava a reestir sua obra do sincretismo religioso que caracterizaria sua imagem a partir dos anos 70, especialmente através da ligação com o candomblé.Mas foi só a partir de 1970, por meio de sua associação com o radialista Adelzon Alves, que se tornou produtor de seus discos, que Clara Nunes personificou a imagem de sambista com a qual encantou multidões. Logo a cantora se transformou na voz de um grupo de sambistas que não tinha representação nas rádios. Bambas como Candeia, Nelson Cavaquinho, Cartola, Mauro Duarte, Romildo Bastos, Toninho, João Nogueira, Xangô da Mangueira e tantos outros que teriam nela a divulgadora maior de suas criações.O primeiro fruto da parceria com Adelzon foi o LP "Clara Nunes" (1970), puxado pelos sucessos "Ê Baiana" (Fabrício da Silva/Baianinho/Enio Santos Ribeiro/Miguel Pancrácio) e "Sabiá" (Luiz Gonzaga/Zé Dantas).A partir desse momento, Clara Nunes se empenha cada vez mais na busca persistente pela autenticidade da origem afro do povo brasileiro, seja na forma de sambas de terreiro, sambas-enredos, baião, forró, frevo, jongo, afoxé.Com o ano de 1975, veio o casamento com o compositor Paulo César Pinheiro, que sofisticou o repertório da cantora em letras e arranjos. A seqüência de discos nascida dessa união está entre as mais brilhantes da MPB: "Claridade" (1975), "Canto das Três Raças" (1976), "As Forças da Natureza" (1977), "Guerreira" (1978) e "Esperança" (1979). Nos anos 80, com fama internacional, excursionou na Alemanha e Japão, visitou sua Angola querida e gravou os álbuns "Brasil Mestiço" (1980), "Clara" (1981) e "Nação" (1982).Hoje, 25 anos depois de sua partida repentina, vale ouvir/reviver os versos de "Um Ser de Luz", de Paulo César Pinheiro, João Nogueira e Mauro Duarte, retrato mais do que sensível da eterna saudade que a Sabiá provoca nos fãs: "Mas aconteceu um dia/Foi que o menino Deus chamou/E ela foi pra cantar/Para além do luar/ Onde moram as estrelas/A gente fica a lembrar/Vendo o céu clarear/Na esperança de vê-la, Sabiá".Para conhecer Clara NunesDisco . Com "Claridade", de 1975, Clara Nunes marcou definitivamente seu nome na história da música nacional. O disco chegou a vender 1 milhão e 100 mil cópias. O disco abre com aquela que talvez seja uma de suas músicas mais conhecidas, "O Mar Serenou", do sambista Candeia. No repertório consta ainda "Juízo Final", de Élcio Soares e Nelson Cavaquinho.Parceiro I . O radialista Adelzon Alves foi um dos principais responsáveis pela aproximação de Clara Nunes com o mundo do samba. Além do romance que teve com a cantora, direcionou a carreira de Clara nas rádios.Parceiro II . A união de Clara Nunes com o sambista Paulo César Pinheiro começou em 1975. O encontro musical rendeu até um casamento. Do repertório do sambista, Clara gravou diversas músicas, entre elas "Portela na Avenida", parceria com Mauro Duarte.Religião . O repertório de Clara Nunes sempre foi marcado pelo ecletismo. Seu primeiro álbum, "A Voz Adorável de Clara Nunes" (1966), apresentou um repertório de boleros e sambas-canções. Com o passar dos anos, a cantora aproximou-se da cultura afro, aderindo ao candomblé e à umbanda, o que moldou seu conhecido visual de longos vestidos brancos, colares e miçangas, muitas adquiridas em viagens à África.Samba . Depois que se aproximou definitivamente do samba, a mineira Clara Nunes foi beber direto na fonte: os compositores da Portela. De Candeia, gravou a clássica "O Mar Serenou" e "O Último Bloco". Entre as de Monarco (foto), "Vai Amor". O enterro da cantora levou 50 mil pessoas à quadra da escola, cuja rua onde está a sede leva, atualmente, o nome da sambista.

Autor: Jornalista Vitor Lopes (Jornal A Gazeta)

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