MONARCO FALA SOBRE CLARA NUNES

Ah, essa é a história da primeira música minha que ela gravou, Vai amor, parceria minha com o Walter Rosa. Fiz o samba e soube no dia seguinte que ela tinha gostado. Aí, fui pra lá para a Odeon e fiquei na porta do elevador esperando ela chegar. Quando ela chegou, acompanhada do Paulinho Pinheiro (esposo dela na época), me disse que não tinha conseguido cantar o samba, pois tinha um trecho muito difícil. Ainda assim, lembro que ela me consolou: "Não tem problema, não, Monarco. Se você não estiver nesse disco, estará no próximo." Mas fiquei encucado... Subi e fiquei conversando com o Guinga, contando a ele do ocorrido. Fomos para o banheiro, ele com o violão, e cantei o samba. Ficamos cantando repetidamente, até que ele achou a solução: descemos um pouquinho no trecho que estava alto para a Clara e gravamos logo. Fomos mostrar para ela, que disse imediatamente: "Agora, sim!" Ah... Fiquei feliz da vida. Sou muito grato ao Guinga por isso. Quanto à Clara, que Deus que a ilumine... Era uma criatura muito bondosa, de olhar meigo e opiniões sinceras. Quando ela gostava de alguém, gostava mesmo. Não tinha meias frases. Onde chegava esbanjava alegria e alegrava o ambiente com aquele sorriso franco. Não havia tristeza. Sem falar que lutou muito pelo samba numa época em que o samba estava devagar... Queriam que ela cantasse bolero, mas nasceu para o samba e foi no samba que se criou, a partir do Você passa e eu acho graça, do Ataulfo Alves e do Carlos Imperial. Foi o primeiro sucesso. Depois veio o Conto de areia, do Romildo e Toninho, e foi a consagração. Ficamos muito orgulhosos, afinal, era a nossa madrinha.

Monarco.